quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
desperdiçado
encontro ecos de ti
por aqui e por ali
outro rosto e outra voz
e no entanto ainda nós
mas quando busco por mim
me encontro em braços sem fim
quem sou? alguém que sobrou
a braçadas mil a mares
bravios, viu e abraçou
areias e novos ares
e grato por terra firme
pequena, e só, afirme
ser a vida uma alusão
a um terrível turbilhão
que a tudo draga e escoa
até mesmo as coisas boas
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
enquanto houver esperança
enquanto houver esperança
haverá vida e luz
na esfera que balança
entre sombras e reluz
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
sábado, 15 de dezembro de 2012
no aterro das memórias
no aterro das memórias
ecos de ontem
nas raízes do amanhã
escravismo onírico
da pena que escreve
históricas glórias
onde menos contem
bravuras vãs
no fio de bravatas
de eus-líricos
em febril verve
e pura basófia
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
bem mal
quando estamos mal devemos parecer bem?
como saber-se mal se parece-se bem?
será um bem fingir que nada há de mal?
será que o bem querer por si só vence o mal?
quindim - a forma poética que mexe com teu estômago
quindim - a forma poética que mexe com teu estômago
quindim, além de ser um doce saborosamente brasileiro, é uma novíssima e revolucionária forma poética para pessoas antenadas e de bom gosto, criado por Nilma Pessoa em 2012. Ao criar novos quindins, favor lembrar de sempre mencionar a criação dessa dadivosa forma a Nilma Pessoa. Não, não quero nem preciso de agradecimentos ou comentários ou tapinhas nas costas, apenas meu nome estampado em todos os cantos.
enfim, ao quindim em si:
é um formato concentrado de doçura, exatamente como nosso infartante doce. eis um exemplo para dar uma boa idéia:
tomei
chá
delicim
adocicado
não há nenhuma métrica, é totalmente livre, embora seja interessante pôr cada palavra em uma linha para máximo aproveitamento de espaço e possivelmente da barra de rolagem do navegador, o que ao leitor traz mais prazer e a revigorante sensação de ter lido um épico
o importante é concentrar bastante sacarose para ter máximo impacto, como neste outro:
com
flores
coloridas
nas
mãos
esmaltadas
a
cheirosa
florista
fechou
rechonchudo
negócio
e
saiu
radiante
pra
tomar
um
geladim
e gostosim
milk
shake
adjetivos: quanto mais, melhor. neologismos brasileiros fazendo referência a quindins também são bem-vindos, como geladim
enfim, espero que apreciem o novo e radical formato poético inventado por Nilma Pessoa e me deem todo o crédito, e quem sabe participação em possíveis lucros. A união faz à força! Mobilizai-vos em pirâmides humanas, que estarei sempre no topo prestes a ajudar no que for.
mãos à obra, e que venham mais quindins, que há "farta" de doces para tantos corações amargos e rancorosos
e, lembrando uma última vez, não esqueçam de mencionar "quindim, a forma poética que mexe com teu estômago, por Nilma Pessoa"
abs
DESGOSTO
DEGUSTO MAU GOSTO MAL PASSADO
DESGOSTO NO ROSTO POUSADO
INDIGESTO GASTO PESADO
DESGASTO SOLA SAPATO
PESCO PARCO PESCADO
GESTICULO PRO GATO
REGISTRO ESCABRO
PISO NO RABO
intempestivo
do topo de suas frondosas sapiências
farfalhavam árvores todas animadas
pela mudança que se operara no vento
que rondava febril e suspirava
rodopiava no chão almejando nuvens
brincalhão trazia de súbito notícias
a rostos incautos, o susto e o lamento
perdeu-se o balé da esvoaçante saia
no horizonte olhares esmiuçantes punem
os excessos e aspirações da pobre brisa
num suspiro o arrebol cai morto, agourento
sonhos desfeitos antes que a noite caia
portas fechadas
tá tudo fechado
todas as portas trancadas
não há saída, não há entrada
não corre vento
todas as direções são desastrosas
todas as vias nada vêem
todas as mãos corrimões
e onde pisam os pés
é solo sagrado
não há saída, não há entrada
há um espaço fumacento
onde com versos o eco em prosa
responde ao meu inquérito
como um psicanalista
e para quebrar o silêncio
acrescento um tom de voz
e não entra ou sai
apenas fica
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
um lugar comum
em um
lugar
comum
cabem
mil e um
comuns
em
casas
comuns
casam
moram
morrem
um a um
fazem
mais um
mais um
e um
topa
topo
de todo
mundo
e fundo
fundo
cai
quando
sem um
comum
fica
lugar
nenhum
sentimentos
sentimento suor esperma virilha
sentimento pele coração camisinha
sentimento dor sofreguidão definha
sentimento amor vagina coração
sentimento vagina pele suor pênis
sentimento pele bunda seio cio
sentimento flor abelha picadura
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
domingo, 9 de dezembro de 2012
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
elos
vista turva
toga torta
arrota rota
traça curva
uva passa
chuva fraca
dá meia volta
solta e arreia
vaca e planta
semeia creia
pão na janta
ceia santa
canta chuva
dorminhoca
nuvem murcha
marcha lenta
leva embora
leve roda
roda e gira
mexe e tira
força e dobra
pão dobra
e sobra
farelo
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
o fim do ateu
após breve soneca pela eternidade
niemeyer acorda e sente frio e nada
chama e reclama mas mesmo eco se cala
arrisca então uma linha pela infinidade
concluída então mais essa obra
faz-se ponto final e se desdobra
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
trama
guardada em mim
mal incontida
fio secreto
da ilusão
amortecida
em renda fina
rende-se a vida
à minha mão
e só dejetos
sobram ao fim
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
jardim de saudades
jardim de saudades
banco de jardim
abandonado resiste
aos pés, folhas mortas
folhas e troncos caídos
e banco vazio
cabana e banana
cabana e banana
da viagem descansado
Bashô na casca cai
minha homenagem ao grande mestre japonês. quem sabe não foi um episódio assim que o fez cunhar o apelido? ^^; bashô = bananeira. tinha uma ao lado da sua cabana. não ficou 5-7-5 perfeito, escorreguei na última sílaba também (de propósito)... rs
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
me acompanha desde o útero
me acompanha desde o útero
minha amada solidão
mas bem sei que sendo adúltero
não terei mais sua mão
sombra
de dia, encolhida aos meus pés, minha sombra
me acompanha calada, aonde quer que eu vá
não importa a dureza da trilha de lá
cá está ela, a quais aventuras sejam, pronta
e se reclamo que sua mudez me afronta
e da irritação que sua imitação me dá
sua face muda volta e me oferece já
da mesma irritação com que de mim zomba
por fim, o entardecer chega e aos prantos tomba
e vendo-me livre de sua presença
ponho-me a pensar sobre os fatos do dia
e sem a luz do sol são pura agonia
a aspereza das pedras a mente esquenta
e o que está por baixo ganha vida e assombra
domingo, 2 de dezembro de 2012
não há sono, não há paz
na selva noturna
não há sono, não há paz
medo à espreita jaz
no bosque à noite
não há sono, não há paz
há medo e há foice
no mar sob o luar
não há sono, não há paz
sombras abissais
sábado, 1 de dezembro de 2012
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
ando sonhando
ando sonhando
sonho andando
desperto
de olhos abertos
dormente
vou em frente
e os obstáculos
de tão surreais
nem os pulo
mais
simplesmente
qual sonâmbulo
pelas ruas deambulo
que coniventes
sinalizam verde
ao ceguinho
passando
na ânsia de me amar
na ânsia de me amar
embarcas ao mar à vela
e lanças-te a me amarrar
à proa de tua lapela
por onde começo?
por onde começo?
nem por início ou fim
nem por alimento ou dejeto
pontas soltas sem nós
extremidades sem graça
dum vasto nó bem bolado
à espera d'algum desenlace
nasço todo dia e morro
abaixo rolo de tanto rir
brinco de pega ladrão
em pijamas acorrentados
a escrivaninhas exíguas
pena à mão, peso nos pés
para não poder partir
se em dois ou mais
tanto faz
importa mais o voo
bem leve ou enjoo
e plainando assim
vou ao encontro
do âmago do furacão
onde sou arremessado
contra sensos e censores
tesoureiros d'amores
picotando parede e chão
e a queda não é brusca
é não, é busca por motivo
que acho no redemoinho
d'amarguras em meu ânimo
revolvendo em meu umbigo
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
o sistema financeiro
o sistema financeiro
funciona desta maneira
tu trabalhas por dinheiro
e, gratuito, ele endinheira
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
eu moinho
eu moinho
sozinho eu e o sol
ou a sós na chuva
rendido ao tempo
do vento colhendo
uivos e lamentos
e com raiva súbita
minhas entranhas
remoem tudo
e engrenagens ocas
moem trigo seco
eu do trigo
faço pão
e eles dão forças
a asas de vento
de passarinhos
terça-feira, 27 de novembro de 2012
fumo
fogo e fumaça é coisa do capeta
deus é só nuvens, ar fresco e folhas verdes tornados possíveis pelo fervor do sol
e as folhas verdes do pulmão do mundo à cinzas voltam e desvastam o teu
metasemântica consumada
a fera consome
mortal fome e carniceira
sorri a caveira
acima o haicai consumado
abaixo as crases ressentidas e as vírgulas sem sentido consumidas
`,,`
atlas
dos ombros o peso
retirei e devolvi
aos ombros de atlas
das omoplatas
retirei enorme peso
deixei para atlas
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
a fera consome
a fera consome
fome mortal e sorri
dentada fatal
a fera consome
fome mortal e sorri
vermelho dental
a fera consome
mortal fome e carniceira
sorri a caveira
domingo, 25 de novembro de 2012
digo-te algo controverso
digo-te algo controverso
que entre as folhas jazendo ao chão
colhi o desabrochar inverso
de algo que já tive em mãos
partiu a caneta
partiu a caneta
em busca de inspiração
caiu na sarjeta
em busca de inspiração
caiu na sarjeta
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sábado, 24 de novembro de 2012
desdenha-me
vem, rabisca-me todo
apaga-me da alva alma
do teu caderno
garatuja do inferno
de vida infeliz e breve
em meio a notas
em rodapés
sem pés não corro
do inevitável destino
a que se destinam
teus caros rabiscos
na sala de aula
nem tocam sinos
ou caem aos olhos ciscos
quando em voo leve
findo-me no lixo
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
os sonhos dos outros
meus sonhos, a mim tão caros e pequeninos
pela maré cobertos de espuma, em areias
no abismo dormindo, encantados por sereias
sonham-se moradas de cavalos-marinhos
agora que se foram, a vida me ensina
navegar é preciso e em volta e meia
ao mar me dirijo, revolto, e pranteia
à dureza em minha voz, e à triste sina
tremo ante sua imensidão e numa fagulha
o sol a esperança reviva em minha vista
e sob os escombros dos sonhos, uma agulha
mera velha garrafa onde jaz uma carta
e ao lê-la sei-me tão pequeno que, otimista
com mais fé singro os mares em dobrada barca
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
onda concretista
numa onda
concretista
surfo
como
skatista
e muitos e muitos
tombos
tomo
e que
br o a
ca ra eo
lom
bo na
quedabrus canacalçada
sonhava mil aventuras
sonhava mil aventuras
com jóias de gente grande
já grande, as mil travessuras
eram um tesouro distante
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
o amor, o maior tesouro
o amor, o maior tesouro
tanto buscava o poeta
que diamante ou ouro
valiam menos que pedra
terça-feira, 20 de novembro de 2012
plágio
há no plágio
algo de pueril
algo de hilário
de querer ser grande
por ardil
de colher só os grandes feitos
feito grandes pelos defeitos
das pequenas peças
que perseverante
o criador não baniu
o plagiador peca
pela omissão
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
farfalhar de árvores
embaixo, um violino
num canto, um esquilo
sou ser do fogo incriado
sou ser do fogo incriado
sou víbora venenosa
sou cria que há criado
o fogo do amor na rosa
domingo, 18 de novembro de 2012
sábado, 17 de novembro de 2012
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
the end
acabou
acabou
berrava o fim do amor
esganiçadas vozes
imolando-se por janelas
abertas ao trânsito na rua
quem dera fosse cheia a lua
e em ato último de terror
transtornado uivasse a fera
e a vampirella voasse
para longe da dor
pró-verso
pausa
parada
para o fôlego
fôlego
de quem fala
palavras e soletra
soletra
letras em sílabas
e rala e ralha
ralha
e malha
duramente
quem falha e fala
sem pausa
ou mortalha
arrefece
e controverso
profissão de fé
professa
confesso
em verso
a vida num sonho
coube a mim dar a vida por encerrada
tanto mais cruel pelo tanto de lutas
por glórias aqui se lhe negando injustas
em tramas pelo estreito palco encenadas
fecham-se as cortinas, vai encarcerada
autora de finas rotinas, da arguta
compreensão da humanidade, e escuta
a indiferença da platéia ingrata
vai em silêncio mas nunca forçada
prenhe de idéias, voz amordaçada
ser canonizada por autoridades
e coube a mim este papel perverso
onde carrasco a eternizo em versos
a vida num sonho de posteridade
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
odisséia
confabulo à soleira da porta fechada
qual caminho a seguir dentre os tantos abertos
parecendo correto assumir o mais reto
ser melhor do que um torto, me lanço à estrada
caminhando entre matas e feras macabras
dou-me então por vencido e olhando mais perto
pela ausência de traço ou razão que venero
abandono essa reta que finda em nada
à saída da escura floresta, um rio
estampado com brilho solar me convida
e recusa não sendo possível, mergulho
não importa de qual forma nade, marulhos
me carregam por curvas por toda a vida
mas ao fim, desaguando em cidade me rio
terça-feira, 13 de novembro de 2012
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
domingo, 11 de novembro de 2012
te prefiro
te prefiro
às estrelas que ardem exuberâncias distantes
à revoada de pássaros tampando o céu em arrogância
à cintilância cegante do sol sobre a neve
ao erosivo ressoar do vento constante nas pedras
ao sedutor arco-íris enclausurado nas jóias
te prefiro mancha cinza sob papel azul
onde me informa e mais de mim desvendo
lendo o lento desdobrar de tuas formas
em caleidoscópico desenlace
quando enfim o toque de teus frios dedos
dedilham lágrimas mornas sobre a face
te prefiro
e da linha de tiro
com que me firo
te tiro
sábado, 10 de novembro de 2012
canção de baco
quando baco tem minha atenção
livra-me das musas o suplício
com olhar turvo vejo a mansão
de plutão pelos campos elísios
no subsolo da depressão
da terra oculta gemem em martírio
almas mil que justiça e razão
dos 3 reis livra ou condena o vício
verei essa terra quando sóbrio?
quando desperto do véu da carne
verei sentido com outros olhos?
não importa, a canção de baco
acalentando a alma que arde
esfria medos, torna-os fracos
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
tudo e nada
quem tudo tem nada quer
quem nada quer mulher
quer mulher tudo e nada
nada tem quem tem mulher
apologia
esculpida em palavras
despida de malícia
de culpa liberta
A Apologia, a descrição de Platão do histórico julgamento de Sócrates, é leitura deliciosa e obrigatória para entender muito do cânone do pensamento ocidental. lá vemos a origem de muitas frases e pensamentos célebres usados ainda hoje, fora o método socrático de indagar mostrado às últimas consequências
apesar da lógica impecável, não o salvou da fogueira das vaidades
também é a raiz do famoso "I apologise" dos que falam inglês para pedir desculpas. quem se des-culpa, tenta tirar de si qualquer culpa, portanto, se defende. aqui no braziu ignóbil é quase sinônimo de "propaganda para drogas", mas obviamente que é novamente sair em defesa de algo
nas mãos de deus
fui convocado a realizar um exame
de direção por escorregadia pista
chovia e não vi os sinais ou oculista
pilotando o videogame e foi um vexame
o x da questão
fixe portanto
vixe!, no entanto
não sei se como taxi
ou se como taxa
indigesto mas ainda melhor que tóxico
que acinta quando os mais pernósticos
pronunciam-no com ch :p
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
a inveja é uma pedra
no meio do caminho havia um poeteiro
caído e inerte, sobre poça ensanguentada
com flores enfrentava mil dissabores e meio
e a cabeça ao meio foi partida e semeada
estou me lixando
estou me lixando
para os espinhos às minhas costas
para sorrisos caninos nos calcanhares
para a sanha da pomba e do musgo
para a sombra que me desbota
estou me lixando
para as vociferações do vento
para a lamúria e lamento
da lama da chuva e dos elementos
estou me lixando
para as andanças e desventuras
as matanças e ternuras
do homem de barro e outras feras
por essa esfera de terra
estou me lixando
para o lixo acumulado
em córregos após a cheia
e impropérios tatuados
em pedestais de areia
estou me lixando
me descascando
limando e rimando
por puro prazer
de tudo e de todos
me despir
terça-feira, 6 de novembro de 2012
penúria
pássaro à mão
eis o bruto
já quase surdo
sorvendo canção
do grito mudo
da dura pena
do apertão
a vida e a paz
a vida
é dor e cansaço
é diária agonia
e inchaço
a paz
é pelos campos semeada
ao fim de perdida batalha
onde soldado raso
jaz
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
da criação
a criação é um grande mistério
é cria de fria noite de inverno
d'autor em indolente hibernação
onde do sonho brota gestação
ruminância
é muito divagar para ruminantes
que saboreando sem pressa o pasto
com expressão tão alheia e vacante
parecem vagar pelo cosmos vasto
domingo, 4 de novembro de 2012
pasteur sentimental
e por rubro insano rio remo delírios
e nele afogo calamitosas colcheias
e semínimas em dó por sol em martírio
às margens azaléias e rosas e lírios
dobram-se ao vento e amor lhe confidenciam
mas outros gritos soltos em pragas e cios
apossam-se da terra e a colheita adiam
o sol bate mais forte e com arrepios
toda sorte d'águas de mares e de rios
levantam-se vaporosas e retumbantes
e dos ares brota música, em colcheias
e semínimas, volta alada que incendeia
os campos e gorjeia cores no semblante
do despertar
deu-me uma banana
e naquele ato
passou uma semana
quando dei por mim
estava pelado
em meio a um jardim
sem muros ou lados
à beira dum lago
do sol quis a chama
e o mesmo macaco
deu-me outra banana
de dentro do lago
sábado, 3 de novembro de 2012
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
infindo
repartindo entre si tesouros duma vida
achada em calhamaços e folhas partidas
donde se encontra pouco mais que mero vulto
tampam-me o caixão e não ouço mais insultos
solene adentro a escuridão oferecida
em total solidão a não ser parasitas
a roer-me a capa e alguns papéis avulsos
mas algo à deriva de mim cá permanece
ao longo de vidas que florescem e falecem
cultivada pelo espanto de novas vozes
do canto onde repouso ouço-lhes o canto
e sempre que posso ao seu clamor me levanto
e o mundo inundo de leitos, rios e fozes
diálogos penianos (alguns diálogos brochantes)
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=234502
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=234288
aprenda a usar mais a cabeça de cima e pare de ejacular teu pólen em flores alheias
pequena estrelinha
baniu-me do céu
e só de birrinha
fiz-lhe um fogaréu
podes queimar vírgulas e vogais
no afã de tuas fogueiras vãs
e aproveita o calor dos carnavais
e queima a língua em frases pagãs
que a pessoa seja pequena e tacanha ainda vá
mas que não saiba rimar senão ar com mar
ou amor com dor de estrelinha bonitinha
já é demais ofensa tamanha ao meu indagar
cara, essa foi profunda
será que enfim do teu cérebro
saiu algo que não grelo?
ou talvez saiu da bunda?
ninguém me escuta
me faço cego
e astuto nego
da verve a culpa
duas sombras me seguem
a do sol e a da lua
não importa que neguem
minha face obscura
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
falso profeta
dos amores e salmos
e perdões em oferta
com que todos são salvos
sou um falso profeta
deixo claro em meus versos
que a dor no peito aperta
quem a mim é averso
sou um falso profeta
que por incertas linhas
teço a trama que afeta
tua vida e definha
sou um falso profeta
com promessas d'amor
nas provações abertas
por meus versos de dor
reflexão
esse despropósito em frente ao espelho
essa busca incessante por sair da sombra
isso tudo move e comove e ainda faltam palavras
devemos inventá-las para dialogar com o indizível
será que você me lê?
será minha pena teu instrumento?
o que quer de mim?
serás tão solitário quanto nós?
é como ler uma obra póstuma e ouvir o autor
mas não poder questionar ou mesmo aplaudir
quis me mostrar algo e te dei as costas
talvez, talvez um dia
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
celeste
sem pássaros n'afoita revoada
ou nuvens cobertas a sol e mel
lembra-me página em branco, um nada
que ao menos da linha do carretel
pipas piquem-lhe as veias e trovoadas
d'antigas cantigas rasguem-lhe o véu
dessa serena viuvez desbotada
quem sabe assim não lhe eclode alegria
no prazer em raiar um novo dia
despertada com orvalhada tez
antes toda a paixão das intempéries
que a quem vivo queima, arde e fere
que à sombra sucumbir em placidez
terça-feira, 30 de outubro de 2012
_aixão
o mundo era um tolo e se perdia
de vista e da estrada curva em parábola
dando nós em lábios turvos mandrágora
tece-me aos olhos prateados rumos
novos a passos fiados com aprumo
encontra-me um lar em ruas estreitas
onde jaz e gorjeia à minha espreita
quero à tua sombra o frio enlace
que vaidosa à fogueira abrace
consome-me pó em teu fugaz seio
suspira-me à face teu devaneio
coincidente
Sócrates platônico por Jesus dos milagres
e Musas das volúpias por mil padres
mas o vinho de Baco permaneceu
sabes que não noto em ti nada digno de nota?
do que digno é de pena
e com eles faz poema
e quiçá uma anedota
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
domingo, 28 de outubro de 2012
sonho sereno
sonho de cobrir de cores
teus lábios insaciáveis
de amores incantáveis
por vozes pólen de flores
sonho de correr no céu
nu a me perder nas nuvens
pálidas donde elas surgem
lágrimas regando mel
sonho a noite toda adentro
suando tua tez página
com versos por pena fálica
mas acordo sem alento
sirigaitas descalças
afago o cão
e se paro
ladra, pede mais e mais
do fundo do coração
com ganidos
bestiais
de todos os lenços molhados
que enfeitam meu cesto de lixo
sempre que pernas partem de lado
e vozes por capricho gemem
satisfizeram-me tão somente
aqueles que levam meu sêmen
sirigaita descalça
aos meus ouvidos versos
sopra, cansa e perverso
mais a TV a exalta
a sílfide de prata
de ouro e jóias adornada
jazia no escuro nua
fria e dura
a lápide era de pedra
lascada e banhada
asceta que era
de lua pura
fez-se mito ainda na mocidade
despedindo-se na vã idade
da vida vaidética
sem uma cura
atrofiado instrumento da voz
desafinava a tudo e a todos
vivia sem paz em meio a tolos
desde que da vida ouviu-lhe a canção
perfurando-lhe atroz o coração
o poço
não posso sair
de todo meu esforço
sobraram só dores
e os ecos no fosso
se partem horrores
quais sombras a rir
congelam o osso
inspirado em Neruda, "O Poço"
sábado, 27 de outubro de 2012
da mediocridade
o anjo caído
por dores partido
cá embaixo anda
rubro a desdizer
do gozo e prazer
que há no altíssimo
pois sem asas santas
não mais alça vôo
e no calabouço
de terra dos homens
rasteja e se esconde
no que é baixíssimo
reinado intestinal
observava impassível
o cortejo fúnebre
o Rei
estivera muito ocupado
durante o banquete real
se empanturrando
não dera por conta
da falta de músicos
e do ninho de ratos
sob a mesa
abdicara da Coroa
doara suas terras
mas só queriam mesmo
sua cabeça
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
a poesia morreu na praia
meu nariz e cheirava mal e fedia
infestando de agonia e azia o ar
e olhos marejavam abundantes ao mar
trazendo cardumes de lágrimas
em pequenas redes brancas cálidas
ao esquálido esqueleto a limar
até que um dia nada restou
carcomida se fez e se acabou
na areia virou pó e só
a onda cobriu e lavou
paitrilha
inda repleto de fôlego na subida
refazendo a sinuosa trilha batida
por incontáveis passos, hoje bem sei
olhei à frente, atrás e ao astro-rei
e à tua fronte graciosa e pequenina
e a meu pai lá no alto, já em sua descida
e à tudo em volta daquela trilha e pensei
"quando pequeno tudo eram colores flores
hoje vejo só pedras, lhe causarão dores"
e pus-me a limá-las e plantar pela trilha
lembro então dos joelhos e mãos calejadas
de meu pai pelo espaço de sua jornada
e o que por mim fez faço por minha filha
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
necroses
sepulcro sacro refúgio
da flor que aflora no luto
pouco se diz
afora que seduz
quem no escuro tumular reluz
é essa hora que nunca chega
que quando chega já é tarde demais
no último raiar do ponteiro
zumbis à espreita nas ruas
tez carcomida, olhos vidrados
sem voz, coração aos farrapos
esfomeiam olhares
ébrios de agruras
sortilégios sortidos
sorveram almas sórdidas
como sorvetes vertidos
com gula e sacrilégio
rastejam e pululam vermes
fartando-se de feridas
expostas e repartidas
por lobos em cordeira derme
pequenas vozes cansadas
quedam roucas silenciadas
abaixo d'alta sombra do Parnaso
miniaturas acanhadas
cafeína vai subindo
e os olhos vão inchando
lá se foi a noite em pranto
e saúdo um dia lindo
ode a carvalho
a direita seguia em frente
atrás, Olavo de Carvalho
idéias suas, sorridente
semeava com seu caralho
precipitado
fraquejei em meu caminho
esperei minha queda em vão
meu mundo ruiu, sozinho
vou voando, sem um chão
faísca
a faísca quando solta incendeia
e só mais fogo pode contra fogo
e cá e lá voleia nesse jogo
quem quer que leia e pena devaneia
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certo
muita gente faz Direito
porque muita gente faz errado
e aí está um potencial mercado
labuta
a chuva escorregava forte a ladeira
a chaleira assobiava pro café
à pé trazia com labuta o trabalho
assoalho diário que sempre suja
haicai pisoteado
nos olhos nuvens
no pé tragédia funesta
moscas na merda
haicai transitório
sinal vermelho
pedestres em marcha lenta
batom corre ligeiro
psalmo
uma salva de palmas pro salvador
por ele palmo a palmo fui salvo
da selva de palmas dos psalmos
salvo lido engano
paz
a paz
aquela capataz
da morte que jaz
na vida do incapaz
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imensidão
cabe a árvore na semente
cabe o amor no homem perverso
cabe o universo na mente
cabe a imensidade no verso *
* baseado em verso de Florbela Espanca e inspirado pelo texto:
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o chamado do amor
por toda parte ecoa febril
do longínquo horizonte onde se deitam céu e mar
ao burburinho ciumento de trocentas fozes
em nuvens se reinventando em mimos mil
ao doce navegar de olhos rasos de ternura
no eterno bailar do sol cortejando a lua
e de seus raros encontros às escuras
no saudoso suspiro das árvores
lembrando-se de eólias carícias
na passarinhada tecendo no ar trinados
e florindo cores pelo gramado
e eu a tudo insensível e alheio
incólume e distraído por eles passeio
ao som de vozes de Musas delirando de volúpia
cochichadas em fones de ouvido em meio à balbúrdia
era glacial
saindo cedo, voltando descrente
turbilhão de rotina, semente
da desilusão com amor fraterno
fiz-me gelo dentre fogos soberbos
impassível e impassionalmente
congelando falas mansas dementes
queimando mais que o fogo do inferno
já não sinto-me preso ao inverno
os dias correntes são todos quentes
quedo-me em lépidas várias torrentes
por teu colo fremente e terno
sushibar (5 haicais ao molho shoyu)
raio de sol
espia casal pela fresta
inflamado co'a seresta
na urbana arena
degladiam-se por milho
pombo e maltrapilho
vozes em trânsito
rosnam apressadas ao seu fim
silêncio cândido
borboleta morta
no asfalto jubilosa jaz
acena em paz
canta a cotovia
pousada, ressabiada
não quer fotografia
overdose de expresso
seu burguês fedorento
a preguiça mental te acomoda
em pequenos cômodos sem requinte
onde jazem sarcófagos do lugar-comum
tua crueza de expressão
tua pobreza de pensamento
tua economia de coragem para viver
te aprisionam em cubículos de bem-estar
haréns de sorridentes pelassacos
sempre prontos para concordar
com teu último fétido achado
no fundo da privada
inspirados por texto de amandu:
sonho de outrora
troveja lá fora
aqui dentro eu
sou pura soberba
e deus tristonho
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sonhando alto
acorda e cai
em si, e ai!
de sobressalto
http://www.luso-poemas.net/modules/ne ... =900186&com_rootid=900183
mal allah
sharia seja louvada
e enfie uma dinamite no cu de todo fanático
e o leve para seu harém de 72 velhas virgens
para ser devorado no inferno
um dueto com Roque Silveira:
tremeluzindo e piscando
pescando a esmo palavras
do turbilhão que deságua
de vidas em desencanto
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=233622
fotogramas pelos dias
envernizam a crueza
mas com tempo tal beleza
perde a cor e a magia
deus ex
parado parece o tempo
não borra a pintura o vento
nem desperta-me o desejo
mas anseio e planejo
por mudança e movimento
porque a isso lamento
frente ao anseio fraquejo
salto para meu fim certo
e quanto mais chego perto
mais rápido tudo muda
toda calmaria atroz
ganha jubilosa voz
na realidade desnuda
cultura sazonal
meus dias eram longos e cheios de labuta
muito bate-papo regado a cerveja e conversa fiada
e longas horas no telefone pelas madrugadas
o tempo passou e a plantação prosperou
hoje vendo os frutos no facebook a preço de clicks