sexta-feira, 30 de novembro de 2012

no fosso entre pedras





no fosso entre pedras
ponte colorida, na queda
d'água partida




sequóia gigante





sequóia gigante
à sombra, musgos e líquens
lambem suas raízes





ando sonhando







ando sonhando
sonho andando
desperto
de olhos abertos
dormente
vou em frente
e os obstáculos
de tão surreais
nem os pulo
mais
simplesmente
qual sonâmbulo
pelas ruas deambulo
que coniventes
sinalizam verde
ao ceguinho
passando




na ânsia de me amar





na ânsia de me amar
embarcas ao mar à vela
e lanças-te a me amarrar
à proa de tua lapela





por onde começo?



por onde começo?
nem por início ou fim
nem por alimento ou dejeto
pontas soltas sem nós
extremidades sem graça
dum vasto nó bem bolado
à espera d'algum desenlace
nasço todo dia e morro
abaixo rolo de tanto rir
brinco de pega ladrão
em pijamas acorrentados
a escrivaninhas exíguas
pena à mão, peso nos pés
para não poder partir
se em dois ou mais
tanto faz
importa mais o voo
bem leve ou enjoo
e plainando assim
vou ao encontro
do âmago do furacão
onde sou arremessado
contra sensos e censores
tesoureiros d'amores
picotando parede e chão
e a queda não é brusca
é não, é busca por motivo
que acho no redemoinho
d'amarguras em meu ânimo
revolvendo em meu umbigo



chucro na lama clama




chucro
na lama
clama

caiu
sem ver
o chão


muito
fundo

berro
morreu
rouco




luna





no mundo da lua
voo de vento em popa
até cair dura
de cara na sopa





quarta-feira, 28 de novembro de 2012

pérola no ar





pérola no ar
alva reluz e seduz
quebra-se no mar





eu moinho



eu moinho
sozinho eu e o sol
ou a sós na chuva
rendido ao tempo
do vento colhendo
uivos e lamentos
e com raiva súbita
minhas entranhas
remoem tudo
e engrenagens ocas
moem trigo seco
eu do trigo
faço pão
e eles dão forças

a asas de vento
de passarinhos

um sopro de azul





um sopro de azul
hasteadas velas brancas
singram céu e mar





contrastes do cinza





contrastes do cinza
água menos cristalina
mais viçoso verde






ao suave toque





ao suave toque
é marmóreo o arrepio
lua de cristal





cá envergonhado





cá envergonhado
nem deu as caras o sol
chora no lençol




terça-feira, 27 de novembro de 2012

no tempo uma pausa








no tempo uma pausa
um momento estanque
turvo ao olhar fêmeas curvas





fumo


fogo e fumaça é coisa do capeta

deus é só nuvens, ar fresco e folhas verdes tornados possíveis pelo fervor do sol

e as folhas verdes do pulmão do mundo à cinzas voltam e desvastam o teu

minhocas no solo





minhocas no solo
cegas ao sol, furam fundo
corroem defuntos






banca de jornal





banca de jornal
notícias escapam aos olhos
na brisa que corre






metasemântica consumada





             a fera           consome
        mortal fome e    carniceira
             sorri a          caveira




acima o haicai consumado

abaixo as crases ressentidas e as vírgulas sem sentido consumidas


`,,`




atlas





dos ombros o peso
retirei e devolvi
aos ombros de atlas




das omoplatas
retirei enorme peso
deixei para atlas






pisoteada





pisoteada
sobrevive rasteira a grama
indicando a trilha





segunda-feira, 26 de novembro de 2012

um furo de prego





um furo de prego
e incha, aperreado
e pára arriado





a fera consome




 

a fera consome
fome mortal e sorri
dentada fatal






 

a fera consome
fome mortal e sorri
vermelho dental



a fera consome
mortal fome e carniceira
sorri a caveira




imensa savana





imensa savana
no encontro co'a velha árvore
a trilha se curva





domingo, 25 de novembro de 2012

num curso no rio





num curso no rio
só rola seixos pra baixo
reprovado rio





no fio da katana





no fio da katana
luz,
arte, flama e, num instante
um vil fio de sangue





digo-te algo controverso





digo-te algo controverso
que entre as folhas jazendo ao chão
colhi o desabrochar inverso
de algo que já tive em mãos





gigante universo





gigante universo
tão longe, tão perto
cabe num haikai em verso





ouriversaria





ouriversaria
mil filigranas douradas
nas faces coradas





chique restaurante





chique restaurante
no cardápio, peixe cru
preço delirante






celestiais sombras





celestiais sombras
árvores curvam-se ao vento
no pio, um lamento






andorinha anda





andorinha anda
cisca e saltita e me vê
e voo levanta





frutos vermelhos





frutos vermelhos
bem agarrados aos galhos
o mato é rasteiro





sirene noturna





sirene noturna
passos em fuga ao aviso
"a mata é do grilo"





partiu a caneta





partiu a caneta
em busca de inspiração
caiu na sarjeta






partiu a caneta
em busca de inspiração
caiu na sarjeta



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centelhas da noite





centelhas da noite
no céu,
silentes, paradas
nas moitas, afoitas





sábado, 24 de novembro de 2012

na esquina, uma puta





na esquina, uma puta
intenso trânsito tenso
vermelho é o semáforo






desdenha-me


vem, rabisca-me todo
apaga-me da alva alma
do teu caderno

garatuja do inferno
de vida infeliz e breve
em meio a notas
em rodapés

sem pés não corro
do inevitável destino
a que se destinam
teus caros rabiscos
na sala de aula

nem tocam sinos
ou caem aos olhos ciscos
quando em voo leve
findo-me no lixo

na seda das dermes





na seda das dermes*
um fio prata adormece
fita ao longe a lua







* verso de K*

carícias e afogos





carícias e afogos
pedra, ela é dura, fria
mar, ele vai, vem





cheio e meio ônibus





cheio e meio ônibus
os passageiros, atônitos
veem uum tããão vaziiiiiiooo





sexta-feira, 23 de novembro de 2012

os sonhos dos outros


meus sonhos, a mim tão caros e pequeninos
pela maré cobertos de espuma, em areias
no abismo dormindo, encantados por sereias
sonham-se moradas de cavalos-marinhos

agora que se foram, a vida me ensina
navegar é preciso e em volta e meia
ao mar me dirijo, revolto, e pranteia
à dureza em minha voz, e à triste sina

tremo ante sua imensidão e numa fagulha
o sol a esperança reviva em minha vista
e sob os escombros dos sonhos, uma agulha

mera velha garrafa onde jaz uma carta
e ao lê-la sei-me tão pequeno que, otimista
com mais fé singro os mares em dobrada barca



quinta-feira, 22 de novembro de 2012

no sono das jóias





no sono das jóias
menina adormece e, bônus!
nem quis uma estória






passa colorida




passa colorida
pelo tempo envelhecida

tardia uva





onda concretista



numa onda
     concretista
   surfo
 como
       skatista
e muitos e muitos
tombos
tomo
 e que
    br o a
     ca  ra    eo
   lom
       bo na
         quedabrus canacalçada




cala a folha e cai





cala a folha e cai
no concreto da calçada
calca um haicai






sonhava mil aventuras





sonhava mil aventuras
com jóias de gente grande
já grande, as mil travessuras
eram um tesouro distante





terça-feira, 20 de novembro de 2012

suave fragrância!





suave fragrância!
flor ondulante na brisa
da selva na saia







co' olho na estrela




co' olho na estrela
minha vista faísca
úmida, rola centelha





plágio




há no plágio
algo de pueril
algo de hilário
de querer ser grande
por ardil
de colher só os grandes feitos
feito grandes pelos defeitos
das pequenas peças
que perseverante
o criador não baniu
o plagiador peca
pela omissão




samurai poeta






samurai poeta
saca afiada pena
e, zás!, voam pétalas




urna antiquíssima



urna antiquíssima
fora, ouro e cara prata
dentro oh! barata!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

farfalhar de árvores




farfalhar de árvores
embaixo, um violino
num canto, um esquilo




acreditem ou não, vi do ônibus  agora há pouco essa cena insólita de um violinista embaixo das árvores na ponta da L2 Sul em Brasília.  não fui rápido no gatilho para uma foto, mas rendeu um haikai. o esquilo? devia estar em algum canto

teima a queimar no ventre




teima a queimar no ventre
a rosa da poesia
que cresce em ti persistente
regada a teimosia





sou ser do fogo incriado




sou ser do fogo incriado
sou víbora venenosa
sou cria que há criado
o fogo do amor na rosa





domingo, 18 de novembro de 2012

embate



fracasso, já diz o nome
é muito fraco e carente
e dá logo um jeito e some
quando sucesso é presente




trovejar



das profundezas das trevas
espinhos de luzes rosas
trazem clareza primeva
à cova dos trolls em prosa




sábado, 17 de novembro de 2012

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

the end


acabou
acabou
berrava o fim do amor
esganiçadas vozes
imolando-se por janelas
abertas ao trânsito na rua
quem dera fosse cheia a lua
e em ato último de terror
transtornado uivasse a fera
e a vampirella voasse
para longe da dor



pró-verso


pausa
parada
para o fôlego

fôlego
de quem fala
palavras e soletra

soletra
letras em sílabas
e rala e ralha

ralha
e malha
duramente
quem falha e fala
sem pausa
ou mortalha

arrefece
e controverso
profissão de fé
professa
 confesso
em verso

a vida num sonho


coube a mim dar a vida por encerrada
tanto mais cruel pelo tanto de lutas
por glórias aqui se lhe negando injustas
em tramas pelo estreito palco encenadas

fecham-se as cortinas, vai encarcerada
autora de finas rotinas, da arguta
compreensão da humanidade, e escuta
a indiferença da platéia ingrata

vai em silêncio mas nunca forçada
prenhe de idéias, voz amordaçada
ser canonizada por autoridades

e coube a mim este papel perverso
onde carrasco a eternizo em versos
a vida num sonho de posteridade

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

odisséia


confabulo à soleira da porta fechada
qual caminho a seguir dentre os tantos abertos
parecendo correto assumir o mais reto
ser melhor do que um torto, me lanço à estrada

caminhando entre matas e feras macabras
dou-me então por vencido e olhando mais perto
pela ausência de traço ou razão que venero
abandono essa reta que finda em nada

à saída da escura floresta, um rio
estampado com brilho solar me convida
e recusa não sendo possível, mergulho

não importa de qual forma nade, marulhos
me carregam por curvas por toda a vida
mas ao fim, desaguando em cidade me rio



terça-feira, 13 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

erodia




chora a saudade
do vento pela pedra
fria e funesta





furto



furtam-se olhos
da beleza alheia
furtivos, fugidios
esquivos da bandeira
fincada no espólio
por posseiro frio


domingo, 11 de novembro de 2012

tormentas



tamborilar à janela
lá fora a vida
brota em fúria da guerra




bala perdida



bala perdida
mira no céu a ferida
pomba jaz em paz




te prefiro


te prefiro
às estrelas que ardem exuberâncias distantes
à revoada de pássaros tampando o céu em arrogância
à cintilância cegante do sol sobre a neve
ao erosivo ressoar do vento constante nas pedras
ao sedutor arco-íris enclausurado nas jóias

te prefiro mancha cinza sob papel azul
onde me informa e mais de mim desvendo

lendo o lento desdobrar de tuas formas
em caleidoscópico desenlace
quando enfim o toque de teus frios dedos
dedilham lágrimas mornas sobre a face


te prefiro
e da linha de tiro
com que me firo
te tiro


sábado, 10 de novembro de 2012

canção de baco


quando baco tem minha atenção
livra-me das musas o suplício
com olhar turvo vejo a mansão
de plutão pelos campos elísios

no subsolo da depressão
da terra oculta gemem em martírio
almas mil que justiça e razão
dos 3 reis livra ou condena o vício

verei essa terra quando sóbrio?
quando desperto do véu da carne
verei sentido com outros olhos?

não importa, a canção de baco
acalentando a alma que arde
esfria medos, torna-os fracos

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

tudo e nada


quem tudo tem nada quer
quem nada quer mulher
quer mulher tudo e nada
nada tem quem tem mulher


solitude


jogava a vida pelo ralo
como cruel deus d'amor próprio
que se cala enquanto falo
enrijecido em solilóquio



apologia



esculpida em palavras
despida de malícia
de culpa liberta








li o texto da Alice e lembrei deste que saiu outro dia

A Apologia, a descrição de Platão do histórico julgamento de Sócrates, é leitura deliciosa e obrigatória para entender muito do cânone do pensamento ocidental. lá vemos a origem de muitas frases e pensamentos célebres usados ainda hoje, fora o método socrático de indagar mostrado às últimas consequências

apesar da lógica impecável, não o salvou da fogueira das vaidades

também é a raiz do famoso "I apologise" dos que falam inglês para pedir desculpas. quem se des-culpa, tenta tirar de si qualquer culpa, portanto, se defende. aqui no braziu ignóbil é quase sinônimo de "propaganda para drogas", mas obviamente que é novamente sair em defesa de algo

nas mãos de deus


fui convocado a realizar um exame
de direção por escorregadia pista
chovia e não vi os sinais ou oculista
pilotando o videogame e foi um vexame



quero um doce


então te mando um daqui
embora sem afetação
pois doce bastante é o caqui
para que mais se adoce em vão



o x da questão


fixe portanto
vixe!, no entanto
não sei se como taxi
ou se como taxa
indigesto mas ainda melhor que tóxico
que acinta quando os mais pernósticos
pronunciam-no com ch :p


lixas


lixar-se faz bem
e bem feito até
a unha do pé
encanta alguém



suspiro


com tanta macaquice
soltou vovó suspiro
que em pirueta e giro
liberto sempre quis-se
 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

sorte


sou um homem de sorte
perdi tanto pela vida
que nada me furta a morte



dia frio


dia frio
mendiga migalhas
engole do chão
toma por música
chuva e trovão
e do motor
veste fumaça
verte cachaça
sonha que dorme
e cai do colchão
no jornal que acoberta
eleito algo alguém foi
com brio

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

saudosa idade


todos temos saudade
de nós e de nossa voz
e do eu que permaneceu
na foz da tenra idade



indagações primevais


ficou no ar
o indagar louco de ti
nas asas do colibri


máguas


admirava o simplório
o plúvio voo das águias
quando de súbito águas
rasgam rasante seus olhos



a inveja é uma pedra


no meio do caminho havia um poeteiro
caído e inerte, sobre poça ensanguentada
com flores enfrentava mil dissabores e meio
e a cabeça ao meio foi partida e semeada

estou me lixando

estou me lixando
para os espinhos às minhas costas
para sorrisos caninos nos calcanhares
para a sanha da pomba e do musgo
para a sombra que me desbota

estou me lixando
para as vociferações do vento
para a lamúria e lamento
da lama da chuva e dos elementos

estou me lixando
para as andanças e desventuras
as matanças e ternuras
do homem de barro e outras feras
por essa esfera de terra

estou me lixando
para o lixo acumulado
em córregos após a cheia
e impropérios tatuados
em pedestais de areia

estou me lixando
me descascando
limando e rimando
por puro prazer
de tudo e de todos
me despir

terça-feira, 6 de novembro de 2012

penúria


pássaro à mão
eis o bruto
já quase surdo
sorvendo canção
do grito mudo
da dura pena
do apertão

a vida e a paz


a vida
é dor e cansaço
é diária agonia
e inchaço
a paz
é pelos campos semeada
ao fim de perdida batalha
onde soldado raso
jaz


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

da criação


a criação é um grande mistério
é cria de fria noite de inverno
d'autor em indolente hibernação
onde do sonho brota gestação



ruminância


é muito divagar para ruminantes
que saboreando sem pressa o pasto
com expressão tão alheia e vacante
parecem vagar pelo cosmos vasto



domingo, 4 de novembro de 2012

mergulho matinal


um mergulho na aurora
das alturas gravíssimas
em uníssono ora
o sol lá ré sí rima


pasteur sentimental

sedimentos de saudade corroem-me as veias
e por rubro insano rio remo delírios
e nele afogo calamitosas colcheias
e semínimas em dó por sol em martírio

às margens azaléias e rosas e lírios
dobram-se ao vento e amor lhe confidenciam
mas outros gritos soltos em pragas e cios
apossam-se da terra e a colheita adiam

o sol bate mais forte e com arrepios
toda sorte d'águas de mares e de rios
levantam-se vaporosas e retumbantes

e dos ares brota música, em colcheias
e semínimas, volta alada que incendeia
os campos e gorjeia cores no semblante

do despertar

um qualquer macaco
deu-me uma banana
e naquele ato
passou uma semana
quando dei por mim
estava pelado
em meio a um jardim
sem muros ou lados
à beira dum lago
do sol quis a chama
e o mesmo macaco
deu-me outra banana
de dentro do lago

sábado, 3 de novembro de 2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

infindo

lançam-me à cova dez mil braços em tumulto
repartindo entre si tesouros duma vida
achada em calhamaços e folhas partidas
donde se encontra pouco mais que mero vulto

tampam-me o caixão e não ouço mais insultos
solene adentro a escuridão oferecida
em total solidão a não ser parasitas
a roer-me a capa e alguns papéis avulsos

mas algo à deriva de mim cá permanece
ao longo de vidas que florescem e falecem

cultivada pelo espanto de novas vozes

do canto onde repouso ouço-lhes o canto
e sempre que posso ao seu clamor me levanto
e o mundo inundo de leitos, rios e fozes

diálogos penianos (alguns diálogos brochantes)

dialogados em
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=234502
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=234288



aprenda a usar mais a cabeça de cima e pare de ejacular teu pólen em flores alheias




pequena estrelinha
baniu-me do céu
e só de birrinha
fiz-lhe um fogaréu




podes queimar vírgulas e vogais
no afã de tuas fogueiras vãs
e aproveita o calor dos carnavais
e queima a língua em frases pagãs





que a pessoa seja pequena e tacanha ainda vá
mas que não saiba rimar senão ar com mar
ou amor com dor de estrelinha bonitinha
já é demais ofensa tamanha ao meu indagar




cara, essa foi profunda
será que enfim do teu cérebro
saiu algo que não grelo?
ou talvez saiu da bunda?




ninguém me escuta
me faço cego
e astuto nego
da verve a culpa




duas sombras me seguem
a do sol e a da lua
não importa que neguem
minha face obscura



quinta-feira, 1 de novembro de 2012

falso profeta

sou um falso profeta
dos amores e salmos
e perdões em oferta
com que todos são salvos

sou um falso profeta
deixo claro em meus versos
que a dor no peito aperta
quem a mim é averso

sou um falso profeta
que por incertas linhas
teço a trama que afeta
tua vida e definha

sou um falso profeta
com promessas d'amor
nas provações abertas
por meus versos de dor

reflexão

essa finitude em meio ao infinito
esse despropósito em frente ao espelho
essa busca incessante por sair da sombra
isso tudo move e comove e ainda faltam palavras
devemos inventá-las para dialogar com o indizível

será que você me lê?
será minha pena teu instrumento?
o que quer de mim?
serás tão solitário quanto nós?

é como ler uma obra póstuma e ouvir o autor
mas não poder questionar ou mesmo aplaudir

quis me mostrar algo e te dei as costas
talvez, talvez um dia