quinta-feira, 27 de agosto de 2015

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bailado negro
celebra cedo no céu -
é o fim do jejum

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presa

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que pressa é essa nos dias que correm
olhos ligeiros mal degustam manchetes
fala e fala o asfalto mas é tudo por alto
o café faz efeito e as mensagens pululam
todos cabisbaixos em conversa animada
o futebol correu e driblou a novela
alguém morreu, roubou, comeu alguém
a todo momento alguém nasce e mal tem tempo
de abrir os olhos antes do primeiro choro
falta fôlego para tão pouco tempo
a noite queima meus olhos e nas cinzas
vejo mero borrão dos dias que correm

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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

céu

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vivo no teto sem fundo
esquadrinhando seus cantos
dei minhas costas ao mundo
donde deitei não levanto

é um teto imenso, profundo
esburacado com idéias
onde cintilam afundo
minhas memórias mais velhas

que venha plano ou rotundo
qual temporal, sem perigo
mesmo que só e vagabundo
sob esse teto me abrigo

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terça-feira, 25 de agosto de 2015

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nenhum sono sana
a crença duma criança
ela cresce com a prece
e com ela sonha na fronha
está sempre à frente
nunca dista além da vista
perdida no bosque ela busca
em meio a pessoas ressoa
a crença é mansa quando avança
é fera quando espera
insana por abismos plana
a crença duma criança
nenhum sono sana

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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

o mar

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o mar são gotas e gotas
formando frases e acordes
polifonia que é solta
sobre areias e fjords

o mar não cessa, não cessa
toda conversa ele encerra
dele se traça a nascença
dos ais na paz e na guerra

o mar me envolve, me afoga
entra no ouvido e na boca
fica lá dentro, em voga
em mim ecoa e cavouca

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domingo, 23 de agosto de 2015

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todo o mundo está quebrado
repartido em mil pedaços
uns se juntam, tudo errado
nenhum cato, só desfaço

revirando aqui e ali
tudo é eco e meus passos
entre escombros que já li
eu os perco quando passo

passei anos e mais anos
à procura de um espaço
que ainda fosse insano
fosse meu, onde me encaixo

quem diria? que surpresa!
o pedaço onde me encaixo
de meus passos me fez presa
e abre a boca logo abaixo

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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

pantanal

vejo braços à deriva
entre apertos e abraços
quando parto não me priva
da saudade do regaço

instantâneo eu refaço
todos passos que não dei
desde as trevas sem cansaço
ao fulgor que fere, eu sei

recebido sou qual rei
coroado com mil vivas
tanto querem que serei
mais um braço à deriva

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só, no céu azul
desfila a nuvem branca -
desfia-se a nu


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